(a minha mãe Hilda, in memoriam)
Quando ainda era dia
e as nuvens passeavam no céu,
eu ouvia tua palavra,
por mais cansada que estivesses.
Estavas ali com teu coração,
então minha angústia se calava
porque a tua palavra era prece.
Quando ainda era dia
mas a chuva desmanchava meus sonhos
sempre estavas ali
carregando em teu colo não os teus,
mas os meus abandonos.
Quando ainda era dia
e meu olhar parava nas distâncias
fitando o nada do horizonte
inocentemente me perguntavas
- O que estás vendo tão longe?
Depois a noite desceu
sobre os nossos jardins,
sobre os teus canteiros,
as tuas hortaliças.
O galo não mais cantou.
Os espinhos sorriram pra mim.
A alegria me perdeu de vista.
Aninhou-se no mais alto da árvore
um pássaro chorando na tarde.
E os anjos te envolveram no ocaso
de tua própria luz
como Verônica envolveu em seu braços
o lenço que roçou o rosto de Jesus.
(Direitos autorais reservados).
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2 comentários:
Lúcia, quanto amor que agora vivemos somente em espírito.
O consolo que da alma generosa vinha, o alento tão gostoso, teremos somente ao nosso lado em sonhos, ou nas sensações do fazer o certo ou o errado.
Agora o céu está em festa, em alegria, pois pessoas assim tão despidas de si mesma, moram pouco aqui na Terra.
Sinto o mesmo, e sei que o amor não morre, nunca morrerá, e a lembrança será sempre viva em nós!
Beijos!
Prece necessária, essa sua. Emoção atravessada, recordação única. Texto elevado.
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